quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Reduto dos poetas

Sábado. 9 horas. Lá fora um dia ensolarado. Aqui, dentro de casa, uma alegria cor do sol. Clara, coloca uma roupa simples, leve, refrescante para andar sobre o calor de Recife. Arruma o cabelo com algo parecendo um grande palito de dentes. Coloca um colar, simples e que tem uma mandala pendurada. Um batom cor de rosa. Um perfume doce. Pega papel, caneta, uma sacola artesanal e sua filha, Patrícia, de 8 anos. Clara, diz que levará a filha para fazer poesia. Ou melhor, conhecer o reduto dos poetas recifenses. Patrícia, repito, no auge dos seus 8 anos, não entende muito, pois não sabe o que significa “reduto dos poetas”. Mas segue a mãe. Enquanto a mãe dirige, Patrícia brinca com seu celular. Quando Clara para o carro e pede para Patrícia descer, a menina toma um susto. “Estamos na feira? Isso aqui é o re...re... não sei o que dos poetas?” Clara ri. Puxa a menina e promete mostrar-lhe tudo com calma. Patrícia aos poucos vai olhando a mãe andando pelos corredores do chão escuro, porém com mesas coloridas pelas frutas. A cada fruta que Clara pega parece ser uma sinfonia poética, ela cheira, ri, vislumbra, enamora da fruta. No olhar dela, reflete-se muito mais do que a beleza da fruta. Percebe-se uma beleza futura. Patrícia, começa entender que aquele lugar parece ser mágico para sua mãe. Pois produz nela uma liberdade sem igual. Uma liberdade colorida. Cores de maçã, laranja, abacate, acerola, manga, melancia... enfim, uma cartela de cores aromáticas. Clara volta para o carro. Mais feliz do que entrou. A sacola parecia estar cheia de tesouros. Pesava um pouco. No entanto, a sacola era conduzida como um troféu, como um baú contendo relíquias. Relíquias... coloridas, cheirosas. Patrícia, parece compreender melhor quando mais tarde, vê sua mãe preparando o jantar na cozinha. Clara canta, dança, suja, lava etc. A cozinha é um palco onde a atração principal não é a comida, mas sim a alegria, a força emotiva, o sorriso que sua mãe colocava em tudo o que fazia. A noite chega. A sala está limpa, bela e iluminada com velas. Patrícia já está dormindo. Ou, ao menos, deveria estar. Patrícia levanta da cama. Vai até a sala. Esconde-se um pouco na sala de jantar. Ao longe, vê as velas, a mesa posta. Sente um cheiro delicioso de comida. Vê sua mãe lindamente vestida. Contudo, tal beleza parecia ter outra fonte. Era um jantar entre Clara e o marido. Eles riam. Bebiam. Beijavam-se. Abraçavam-se... Patrícia volta para o quarto. E pensa alto: “Mamãe só não me disse que esse tal reduto dos poetas era sócio da alegria de amar o papai. Porque a poesia de mamãe, hoje, não foi a feira, mas foi amar o papai em todos os momentos desse dia!”

6 comentários:

  1. Eu sou do tipo que lê e viajo na cena... Aqui, no caso, com toda essa descrição, é impossível não se sentir nela...

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  2. Perfeitoooo!!! Como é lindo, levar a poesia para o nosso cotidiano. Mulheres fazem isso sempre, mais quando o prazer de alegrar quem agente ama é MARAVILHOSO. E isso tudo vira POESIA.
    Rayane Kelly. :D

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  3. Ai que lindo! Isso que é poesia! ... e como era de se esperar, nos sentimos como Patricia, expectadores olhando tudo. =D Parabens pelo texto. Hilcia.

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  4. Ao ler esse texto, lembrei do prazer que eu sinto ao caminhar na feira, sentindo as frutas e verduras, não apenas com o tato, mas com os olhos. Vendo a beleza nas mais diferentes cores. Sem esquecer, claro, do olfato, ao sentir o perfume que exala de cada fruto, despertando em mim o desejo de saborea-los.
    Forte abraço
    Eduardo Mendes

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  5. Nossa, Luiz!

    Você está melhor a cada quinta que se passa... A forma descritiva da feira foi fantástica, até me senti lá,vendo e compartilhando a poesia romântica do dia-a-dia da família que se ama e cultiva esse amor.

    O desfecho foi sensacional!
    Parabéns, Luiz!

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  6. Luiz:

    Acho que o jeito mais gratificante da vida é colocar a poesia nos mais singelos gestos.
    Lindo pra variar...rs.
    Abraços.

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