segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Amour, acide et noix



Fotos: Luiz Carlos Filho

Domingo à noite. Teatro Santa Isabel lotado. Fui ver o espetáculo de dança chamado Amour, acide et noix (Amor, ácido e nozes) da companhia canadense de Daniel Léveillé Danse. Espetáculo onde ao som de Vivaldi três bailarinos e 1 bailarina dançam completamente nus durante todo o momento. Isso mesmo, totalmente nus. Começo daí a questionar-me se esse não seria o motivo da casa cheia. Pois tenho ido a apresentações de dança e não vejo público grande para tal feito (infelizmente, diga-se de passagem!). No entanto, com um pouco de estudo e pesquisa percebo que a nudez na dança é bastante comum nos países lá fora. E, talvez, a curiosidade e um pouco de cultura “provinciana”, que ainda marca o Recife, instigaram o público lotar o teatro numa noite de domingo. Faço um lembrete e ressalva para parabenizar a Cia. Etc. pelo espetáculo Darkroom. Pois eles – estudiosos, antenados com o mundo – trouxeram o nu para dança num espetáculo ousado e criativo na cidade do Recife muito antes dos canadenses. No tocante ao espetáculo de ontem, a temática era abordar” a solidão e a importância do toque tendo como a pele, o corpo como única alternativa de leitura”. Pude notar alguns movimentos repetitivos durante a dança. Isso criou uma atmosfera um pouco cansativa. (Não seria esse o motivo do público se mexer tanto nas cadeiras até fazer barulho? Ou seria porque o público “incomodado” não estava acostumado com a dança? Bem, sigamos...). O que de fato impressionou foi o trabalho de corpo dos bailarinos. Impulso, respiração, força, sincronia tudo isso para expressar a força e a dor da solidão, da angústia. Duas cenas, ressalto: O solo de Justin Gionet onde transmitiu a angústia, a solidão. Angústia essa que me fez pensar nas relações com o outro. Angústia essa que me reportou a dança anterior onde Justin Gionet dançava com Mathieu Campeau e pareceu-me ali uma relação amorosa com encontros, toques, brigas, afastamentos e reaproximações. A segunda cena que ressalto é o momento em que os 4 bailarinos estão em cena, parados. E ao som de pássaros e um texto em inglês a iluminação vai mudando, bem como suas posições no palco. Lembrando árvores ganhando vida. Ou até mesmo a própria poesia dando vida ao amor que por ora é ácido, mas também é doce.

Um comentário:

  1. Excelente crítica, fez jus ao espetáculo.
    Isabelle Assunção

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