segunda-feira, 26 de março de 2012

Essa febre que não passa - Coletivo Angu de Teatro



Demorou, mas saiu! Quero contar para vocês sobre o espetáculo “Essa febre que não passa”, que muito tocou e emocionou o público.

Toda a encenação dividida aos contos retirados do livro homônimo de Luce Pereira, que de cara nos remete à conflitos, indignações e tensões de mulheres que buscam compreender e tratar do passado, do presente e futuro, fazendo com que uma explosão de sentimentos, desordens e afetos sejam trazidos em destaque e esmiuçados.

A montagem tem uma linguagem simples e de fácil compreensão, não sendo difícil deixa-se contagiar pelo universo feminino que permeia toda a apresentação, fazendo com que os espectadores consigam acompanhar as fragilidades e fortalezas que toda mulher traz consigo.

Com o decorrer da narrativa, vamos percebendo o quão próximo de nós estão as problemáticas vividas pelas personagens, situações tão comuns ao nosso cotidiano, que de forma sutil, mas forte, consegue atingir a todos.

Os contos são divididos em cenas específicas e monólogos, tendo como início o relacionamento entre duas mulheres, com suas dores e separação.

Em cena, um casal lésbico, onde o desejo exacerbado e a empolgação do início do relacionamento vão sendo esquecidos pelo desatenção, egoísmos e falsas motivações que permeiam uma relação. Fazendo com que o gato, cujo nome é Clovis seja o último suspiro de esperança da desgastada relação.

Homossexualismo tratado com muita delicadeza e verdade.

Noutro momento, conhecemos a  personagem  que não gosta do seu próprio nome, pois com sua mania de grandeza, ela afirma que nomes definem tudo, e por isso a importância de se ter um nome imponente, bonito, “chique”.

De forma criativa e com boas tiradas de crítica social, a personagem vai bisbilhotando a vida dos vizinhos do seu prédio e de figuras que encontram no seu dia-a-dia, partindo sempre dos nomes de cada um delas e do “peso” que eles possuem.

Posteriormente, veio a cena que para mim foi a mais triste, a mais dura de se ver. Trata-se do conto Talvez já fosse tarde, do qual dívidas de afetos, como abraços não dados, palavras não ditas e carinhos não demonstrados vão gerando uma angústia torturante.

Uma boa reflexão acerca do valor e atenção que damos aos nossos queridos que fazem parte da nossa vida como pais, mães, avós, tios, irmão, que muitas vezes se vão no curso natural da vida e não aproveitamos o tempo que tivemos juntos para demonstrar todo nosso amor.

Em seguida, a cena entre duas irmãs que tomam café juntas, foi no mínimo, bem comum.

Um “acerto de contas” entre as duas personagens vai tornando a encenação engraçada, curiosa, mas bem questionadora.  A discrição e resignação de uma irmã encontra contraste na alma livre da outra, que desejava ter a alma de Frida Khalo, inquieta, com vontade de partir.

Apesar das diferenças, vai se percebendo algumas coisas em comuns entre as personagens, coisas essas que demonstram o elo, e a ligação que o “sangue” traz das irmãs.

No último conto do espetáculo,  o drama de uma mulher que não agüenta a dor, o desânimo e a solidão deixadas por uma relação fracassada, e decide, em plena noite de final de ano acabar com sua própria vida, por não suportar a idéia que seu amor não mais a pertencia.

Cena forte, dramática, que com certeza inquietou e incomodou o público naquelas feridas ainda não cuidadas, não devidamente trabalhadas.

O cenário do espetáculo é composto de cortinas translúcidas muito bem divididas, que representam as camadas da vida daquelas mulheres, que ora relevam, ora escondem seus segredos, suas dores, suas entranhas.

Cinco contos que mexem com  muitos sentimentos inquietos, fazendo com que , apesar da angústia que é gerada ao tocar nas feridas, vejamos que a superação e o reencontro conosco mesmo é possível.

Um belo espetáculo sobre o amor e suas faces!

Evoé

Um comentário:

  1. Estou prestes a sair de casa para assistir esse espetáculo no Festival de Curitiba. E estou indignado, ao saber que o espetáculo que paguei R$ 25,00 por uma meia entrada, custou R$ 5,00 a inteira na Mostra Funarte no Rio de Janeiro, onde se apresentaram antes de vir para Curitiba. Como diz o narrador, Que Beleza !

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