quinta-feira, 15 de março de 2012

Saindo da zona de conforto...

Sophia tinha 40 anos. Casada com Cláudio. Homem rico e frio. Não necessariamente nessa ordem, mas a falta de amor com Sophia era explícita. Sophia era uma mulher bonita. Não trabalhava. Vivia às custas do marido. Ele não quis que ela trabalhasse para melhor cuidar do lar. Sophia também não queria. Escolheu abnegar-se em detrimento da felicidade do esposo. Esqueceu-se somente de ser feliz nessa ação. A vida de Sophia era uma mesmice. Sempre a mesma rotina, a mesma coisa. No entanto, ela gostava. Dizia que precisava controlar tudo. Casa, filho, marido, ela mesma, emoções. Dizia que adorava sua rotina, sua vida. Sophia chegava a ficar doente quando algo saía do controle dela. Realmente, quando isso acontecia ela se descontrolava, parecia outra pessoa. Até que um dia, ela se apaixonou por Pedrinho. Ela lembra exatamente o dia. Era uma terça-feira. Ela estava saindo da natação do seu filho, Carlinhos. A piscina cheia de crianças, adolescentes, adultos. Sophia feliz por estar controlando tudo: onde o filho estava, o que marido faria mais tarde, o almoço do fim de semana (mesmo hoje sendo, ainda, terça-feira). De repente, Sophia vê um jovem, nem tão magro, nem tão forte. Corpo levemente torneado. Tórax totalmente liso. Uma mistura de homem no corpo de jovem, ou jovem no corpo de homem. Foi tudo tão rápido que definir seria esquivar-se de surpreender ante o belo. O rapaz se aproxima e oferece os óculos de mergulho que Carlinhos esqueceu no banheiro. Sophia por um lapso de tempo fica desnorteada. Parecia que algo tinha tocado à escultura de gelo que era o seu coração. Ali estava, diante dela: Pedro. Foi amor à primeira vista. Não. Foi amor construído a cada aula de natação. E, de repente, Sophia começou a gostar de ir à natação. Começou a se arrumar para a natação do filho. Tudo isso por conta de Pedro. Sophia ficaria feliz se a história terminasse aí. Porém, Pedro é mais novo do que ela 20 anos. E eles dois começaram a ter um caso. Era a primeira vez que Sophia infligia uma regra. Regra mais forte e mais cobrada por ela mesma do que por toda a sociedade. Sophia estava saindo da zona de conforto dela para a zona inesperada da paixão e dos braços do Pedro. Contou que o Pedro a conquistou, quando ela relutava por cometer essa “loucura” ele lhe disse: “Não espere sempre algo. Ou sempre algo do seu jeito. Sempre um certo e um errado. Mas viva o seu algo “certo” ou “bom” a cada instante. Sei que você tem uma ferida. Saiba que a ferida dói, no entanto ela constrói e reconstrói a cada um de nós”. Hoje, faz um ano desse envolvimento entre Pedro e Sophia. Ela ainda não sabe muito bem lidar com isso. É muita novidade para ela. Ela acha que saiu demais da zona de conforto dela. Mas não consegue ficar longe daquele corpo, daquele sorriso, daquela voz meiga e forte. Hoje, é Sophia quem escreve esse texto. Diz está amando a si mesmo e amando o Pedro através da incerteza de ser ela mesma depois de 40 anos aprisionada à opinião alheia. Hoje, Sophia fez uma tatuagem. Disse que é uma frase em homenagem a Pedro. A tatuagem diz: “Desculpa pela demora”. E disse que o tatuador perguntou: “Por que a senhora pede desculpa? Ou para quem?” Sophia, ergueu a cabeça, concentrou-se depois de tanta dor e disse: “Peço desculpa a mim mesma, pois só agora tive a coragem de deixá-la entrar.” Quem? Indagou o tatuador. "A liberdade de ser eu mesma num tempo, espaço e de um jeito só meu."

6 comentários:

  1. Raquelline Cavalcanti15 de março de 2012 às 08:57

    Luiz Carlos,
    Como você bem sabe, sou uma admiradora dos seus escritos... E, com esse, não seria diferente! Trata-se de uma leitura sóbria, real e quiçá, palpável. Percebemos que Sophia é semelhante a muitas mulheres que vemos nas ruas, casas e principalmente, nos consultórios de Psicologia. Elas buscam um real sentido.. Um fato que justifique tanta acomodação. E, a tão famosa ZONA DE CONFORTO, não poderia explicar essa acomodação de uma forma tão completa.
    Mais uma vez, parabéns pelo texto, e, com sua permissão, ainda o utilizarei muito em algumas dinâmicas pela vida a fora.

    Grande beijo, Lu!


    Raquelline Cavalcanti
    Psicóloga

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  2. A magia de utilizar palavras que alimentam e movimentam a alma humana, e proporcionar através da sutileza dessas o alcance ao nosso eu é digno de aplausos! Você é o mágico!
    Adoro me embriagar com sua sensibilidade!
    Beijos da sua admiradora nada secreta, Jessica Paixão.

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  3. “Não espere sempre algo. Ou sempre algo do seu jeito. Sempre um certo e um errado. Mas viva o seu algo “certo” ou “bom” a cada instante..."

    Como você é incrível, Luiz. Como você consegue nos encantar com suas belas e sábias palavras. Como você consegue nos fixar de uma maneira tão mágica. Admiro sim, e assim será sempre.
    Beijos com carinho, Bruna.

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  4. Amei..eu sempre digo isso é que não tem como não se apaixonar
    com teus textos,é muito gostoso de ler e sempre que termino de ler fica aquele gostinho de quero mais..Maravilhoso texo.

    ( Gih )

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  5. Luiz, incrivél...
    Esse texto esta perfeito!
    concordo com os depoimentos anteriores. Faço tbm as minhas palavras. Amigo, vc sempre surpreende!!!!bjs
    Ass: valéria patricia

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  6. Luiz:

    Amei o texto. Fiquei comovido com a coragem de Sophia em se permitir em um mundo tão hermético e enfadonho, ela se deu chance de ser feliz.
    Abraços querido.

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