domingo, 9 de outubro de 2011

Erendira!






Poesia. Essa é a melhor palavra para definir a substância que corre na veia de Jorge Féo. A cada trabalho dele fico impressionado com seu olhar sensível, humano e poético. Costumo compará-lo ao Rei Midas, pois tudo o que ele toca torna-se belo, bom, enfim, vira ouro. Por isso, ontem, ao ver a peça Erendira, saí mais rico porque vi, toquei e absorvi um pouco dessa riqueza.
A marcação dos atores em cena foi feita de maneira primordial. Trazendo, assim, movimentos as cenas e amplitude ao palco do teatro Joaquim Cardozo. Pois, ali, já não cabia tanta plástica poética em alguns metros quadrados.
A iluminação, a sonoplastia, o figurino e o cenário envolviam qualquer espectador na atmosfera da composição teatral. Mas confesso que nisso tudo se pôde ver a marca de Jorge Féo. Marca de cuidado, de carinho, de generosidade (essa é a palavra, G-E-N-E-R-O-S-I-D-A-D-E!). Não só com o trabalho feito, como também com o público presente.
Os atores deram um show à parte. Destaque para Elilson Duarte: marcação de cena, presença de palco, improvisação e interpretação envolvente. Romero Brito: voz, canto, interpretação, sentimento, sentimento. Sim, muito sentimento que esse pequeno-grande homem-ator transmite. Surpreendendo a cada instante. Isis Agra: sorriso, entonação, olhar... Tudo nela parece perfeito, parece uma boneca. Contudo, numa desenvoltura peculiar ela consegue atravessar, como ninguém, os rios da dor e da alegria, da ficção e da verdade, do real e da poesia.
Aplausos também para a maquiagem. A gota prata no rosto dos personagens-anjos e seus olhos bem marcados reforçavam as expressões e os sentimentos ali contidos.
Erros? Sim, eles também estavam lá. No entanto, desculpe-me desapontá-lo, caro leitor, porque os erros foram ínfimos diante de tanta beleza naquele teatro. Não conseguiram para a poesia que emanava dali. Ouso dizer, nisso vimos a grandeza dos atores presentes, pois diante das adversidades conseguiram transformá-las em ouro como o mestre que os guia bem faz.
Hoje é domingo. Escrevo esse texto as 08h30. Chove. Compreendo, dessa maneira, a gratidão do Universo por essa apresentação devolver ao homem hodierno a poesia perdida no dia a dia. E como Erendira eu digo a você: É a melhor, vá e volte!

Erendira
Sábados e domingos de outubro – 20h. Preço único R$ 10,00
Teatro Joaquim Cardozo
Texto e direção: Jorge Féo.
Elenco: Isis Agra, Jay Mello, Elilson Duarte, Romero Brito e Pedro Queiroga.
Realização: Anjos de Teatro
(As fotos postadas nesse blog são de Cristina Holanda.)

6 comentários:

  1. Espetáculo bacana, dinÂmico e poetico.
    Foi um presente no nosso sábado.
    fiquei com vontade de voltar lá.
    Linda critica amigo.

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  2. Fiquei tomado pela dinâmica do espetáculo. Vontade de ir lá e voltar mesmo! Parabéns aos atores e diretor. Parabéns ao Luiz pela descrição inspiradíssima de Endira!

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  3. O espetáculo é maravilhoso, a luz no remete a atmosfera do conto e a trilha sonora é magnifica. Achei muito boa a critica da peça pois não conhecia o trabalho do grupo. Porém, para mim o que chamou atenção na peça foi o trabalho do ator que faz o fotografo e que fica com o relógio na mão ( Uma voz gostosa de se ouvir, e uma calma que nos faz sentar na poltrona e se deixar levar) e principalmente o menino que faz a avó. Saí do teatro impressionada com as nuances que ele dava para o personagem e o corpo que fazia com que a gente acreditasse que de fato ali existia uma velha. Muito boa a sacada do véu, e a voz dele passava autoridade. Não sei os nomes mas deixo aqui meus parabens a eles e a todos os outros atores. Recomendo a peça para quem quiser ver. É muito inspiradora.

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  4. Admiro o trabalho de Féo desde o antigo POCHAD. Ele tem uma maneira muito peculiar de direcionar seus atores, a estética de seus espetáculos são sempre impecáveis. Ví Erendira no Muda, no Milton e agora no Joaquim. É um espetáculo muito forte, muito cativante, e no palco você consegue ver o trabalho de diretor e o trabalho imagético usado nos atores. Concordo com algumas coisas da critica e outras não, acho fantástico trabalhar atores Youngs, porem, é um risco alto quando se trata de um espetáculo desse calibre e com o teor desse texto. Nessa temporada nova consegui perceber claramente algumas mudanças acrescidas ao espetáculo, dessa vez mais maduro. O trabalho da avó continua impecável, Jay Mello tem o tom certo da personagem e suas cenas tem sempre a dosagem certa entre o cômico e o drama. Elilson Duarte assim como Jay conseguiu elevar o teor de seu personagem, deixando assim mais cativante ao olho do publico. Romero Britto se perde as vezes em suas próprias nuances, o Ulisses do conto que desafia o pai e segue seus instintos em busca do amor da doce Erendira, cai no clichê do adolescente rebelde. Ele deve ficar mais atento a essa questão. Talvez de todos os atores o que fica claro no palco é o Pedro Queiroga, muitas vezes ele não consegue alcançar a proposta de ser sombrio, e algumas palavras que ele diz ficam inaldiveis ao ouvido do espectador. Já a Erendira foi uma grata surpresa, Isis Agra Consegue cativar o espectador do começo ao fim com sua docilidade, mas também impressiona quando se torna mais dura, ela tem sempre o tom certo que mescla entre o amor e o temor. Uma das cenas mais emblemáticas da peça é a fuga dela para o deserto depois do assassinato de sua avó, Jorge foi muito feliz ao coreografar o final de uma maneira simples, verdadeira e cativante. Mesmo com todas essas observações o espetáculo é uma jóia rara. Vou ver novamente com toda a certeza. Muito boa a iniciativa de compartilhar essa critica pelo facebook. Parabéns pela narrativa. "Erendira é a melhor, vá e volte"

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Olá, pessoal,
    gostaria de agradecer a presença de vocês em nosso espetáculo, além de pedir obrigado pela crítica (a Luiz)e pelas pontuações mais-que-construtivas de vocês, através dos comentários.
    É muito bom ter essa resposta. Fico feliz em saber que nosso diálogo foi feito!

    Luz e harmonia pelas horas,
    Elilson 'Duarte.

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