sábado, 15 de outubro de 2011

Espetáculo LEVE

Fotos: Breno César
Sinopse: o espetáculo “Leve” transporta para a cena as sensações, os sentimentos e os questionamentos do ser humano diante da morte. O trabalho foi criado sob a perspectiva de quem viveu a perda, a partir das vivências das criadoras-bailarinas Maria Agrelli e Renata Muniz. A concepção do espetáculo surgiu das reflexões das duas artistas, que lidavam de forma diferente, e até mesmo divergente, sobre a perda de pessoas próximas. As variadas perspectivas de encarar a morte serviram de suporte para a criação de Leve, abarcando a complexidade e intensidade do tema proposto. As sensações de impotência, saudade, dor, raiva, desespero, vazio, alívio se mesclam na cena do espetáculo, desvelados pelo corpo das bailarinas e pelo ambiente criado para este trabalho. Um espetáculo-instalação de dança que une coreografia e improvisação, propondo a imersão do público em uma atmosfera mística, intimista e lúdica.


Meus amores, permitam a frieza de começar essa postagem com a sinopse criada pelo coletivo lugar comum, pois dessa forma eu serei fiel ao real sentido e mensagem desse espetáculo, sem que a minha leitura dê outra conotação ao da criação do Leve. Bem... não tendo eu fugido do compromisso de falar da montagem para vocês,  sinto-me livre para contar o que esse espetáculo causou em mim, e a leitura que tive dele!

"É preciso fechar os olhos para poder te ver!" É esta frase que até agora ecoa dentro de mim, sendo a causadora de um rebuliço que desde a madrugada vem roubando o sono, dispertando novidades, questionando sentimentos.

De forma misteriosa, fui inserida no universo do espetáculo leve, que intimista,  me levou a participar diretamente da contagiante explosão que as bailarinas Maria Agreli e Renata Muniz causam nos espectadores.

Ao sentar-me no palco, observando aqueles translúcidos tecidos, como que escorridos ao vento, tive a sensação de estar diante de um ventre, onde dois fetos encontravam-se espremidos pelas entranhas que os formavam... dava vida.

Em poucos instantes, as posturas das bailarinas me causou desconforto...um incômodo, uma angústia... começando a fazer com que uma mistura de sentimentos começassem a dialogar dentro de mim. Era uma mistura de desespero, vontade de chorar, vazio, com alívio, liberdade, e satisfação. Tão distintos e tão parecidos sentimentos!

Sei que o espetáculo traz em tela os diferentes olhares em relação a morte, mas a linha que separa a morte da vida é tão tênue que as vezes ao falar e refletir sobre uma, me faz ser inserida no universo da outra, e vice versa, causando dúvidas, sentimentos inominados, que por vezes merecem um pouco mais de atenção, como
está sendo o caso.


Não seria preciso morrer para descobrir-se vivo? Não seria a morte um desejo de vida? Tais dúvidas passam a ser prepoderantes nesta nostálgica madrugada de sábado.

Não estaria eu morrendo em vida, quando aos poucos vou descobrindo minhas misérias e a loucura e o transtorno passam a querer me dominar? Viva... e sem vida! O que seria a morte então?

Percebo que preciso morrer para muitas de mim, pois assim talvez eu consiga enxergar-me quão viva eu estou!

É preciso fechar os olhos para me ver!

Espetáculo mais do que perfeito.. diria intrigante.

Evoé

4 comentários:

  1. A música cortante, a letra inquietante, o som dos braços exaustos de encontro ao chão, a respiração pesada e entrecortada causada por uma angústia, por uma dor que impregnou o espaço.

    De repente percebi que cada um de nós havia se tornado uma extensão do espaço cênico. Éramos pequenos palcos onde o TALENTO nos deu o privilégio de se apresentar.

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  2. muito lindo seu texto Deyse. Inspirador! Beleza em poesia!

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  3. Pelas percepções da Deyse e do Fábio o espetáculo foi instigante e repleto de emoções. Pena que não estive com vocês para também ser palco.

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  4. [...] o que falar, mais?! pertinentíssimas obsevações, deyse! muito verdadeiro e fiel a tudo o que sentimos, a tudo o que o espetáculo nos provoca. belíssimo texto.

    ..e é incrível, mesmo! cada tecido que ia ao chão, no decorrer do espetáculo, mostrava-me como é delicada a linha que separa a vida da morte; além de me tirarem o ar, como suspiros últimos que eram dados. 'leve' causa uma reflexão tão forte, que transforma-se numa grande visita ao nosso inconsciente, onde reaparecem memórias e sensações inexplicáveis. diante disso, acontece o que aconteceu: saímos sem palavras; só com sentimentos. enfim..! C:

    parabéns pelo blog. continuem!

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