domingo, 29 de janeiro de 2012

Cinema in process

1- Oi! Não gosto muito de palavras. Falo pouco. Mas expresso muito com o que você vê em mim. 2- Oi! Gosto muito de falar. Sou amante das palavras. Nem todo mundo me enxerga, mas sei me fazer ver. N – Essa é a poesia. Pedindo licença para adentrar no mundo da imagem. Afinal de contas estamos falando de Cinema. Esse bem que poderia ser um recorte dos diálogos apresentados, ontem, na leitura dramática (ou no vigésimo ensaio – como marcou bem o diretor, Anderson Aníbal) do Cinema in process. A referida peça soube muito bem mexer com imagens e palavras. Um casamento perfeito que gerou dois filhos: simplicidade e linguagem poética. O cenário foi um chão preto demarcado com um retângulo branco. Ali era o palco. Onde os atores entravam e diziam suas falas. Apenas os personagens-narradores ousavam falar fora do palco. Palco? Prefiro chamar de fotografia. Sim. Porque a moldura branca e o figurino dos personagens remetiam a uma foto. Mais uma vez o cinema aludindo à poesia. Texto, simples e poético. Relações que se passam no cotidiano. Relações contemporâneas. Relações vividas e vistas, talvez, por mim e por você. Vistas pelos personagens que em meio as suas falas nos fitavam o tempo todo. Seríamos nós, espectadores, espelhos para eles? Fonte de inspiração? Segue algumas pontuações: Figurino da atriz Paulina Albuquerque. Um vestido roxo. Simples. Leve. No entanto, na cor trouxe a densidade da relação vivida, pela personagem, com o Ivan. Parabéns a Paulina. Poucas palavras, muita força, gestos precisos e uma carga dramática que transmitia o teor do conflito relacional. Figurino da atriz Hermínia Mendes. Figurino simples. Um vestido preto. Cobria a personagem do suicídio. Interessante notar a alegria, o entusiasmo dessa personagem que fazia contraponto com o desejo de morte. Bem colocado essa dicotomia: alegria-dor, vida-morte... Quase uma montanha-russa de sentimentos variados que também são vividos por nós diariamente. (Novamente me pergunto: platéia, és espelho ou inspiração?) Bernardo. Mais um personagem reflexivo e profundo vivido por Elilson Duarte. Que emprestou sua simplicidade dos gestos, delicadeza no olhar e alegria no viver ao personagem. Percebemos (para quem acompanha seus trabalhos) que não é o mesmo Elilson nem tampouco uma mistura de personagens anteriores. Mas ali era o Bernardo, gente como nós; Bernardo dor, angústia e indecisão que vivia ali. Parabéns pela cena com Hermínia. Foram gestos que silenciaram a palavra e, por isso, falaram muito. Parabéns pela cena do Jorge Féo, o Juliano. A força da morte, suas conseqüências... tudo foi ganhando ritmo, cor, peso naquela cena. Transportando-nos mais uma vez ao nosso dia a dia. Porém, tudo foi pouco diante da poesia da camisa vermelha ter sido coração transplantado. Parabéns para a cena dos corpos caindo, gritos, narrador falando e Brunno de Lavor tendo que está próximo de todos os corpos, pois era a função do seu personagem. Pergunto-me de novo: Não seria ali uma referência a sociedade hodierna que devido a relações fluídas (cito Zygmunt Bauman) homens e mulheres, a todo instante, sentem falta de um coração? De um afeto? Parabenizo a todos, pois Deleuze diz que a civilização da imagem é uma civilização do clichê. Mas o que vimos ontem estava, e está, muito além de ser clichê. Está crescendo, nascendo na arte da reflexão e da poesia. Sendo assim, dou louvor a todos da peça. Diretor: Anderson Aníbal e ao elenco: Brunno de Lavor, Daniel Barros, Elilson Duarte, Hermínia Mendes, Jorge Féo, Júlia Fontes, Luciana Canti e Paulina Albuquerque. Peço desculpas para quem leu essa crítica esperando encontrar um texto corrido. No entanto, quis ser fiel aos recortes vistos ontem. Por isso, o texto aparece como fotografias. E para você que não viu, saiba que Maio/2012 é a data prevista para estréia da peça. Termino parafraseando um texto comum ao teatro em Pernambuco: Cinema é ao vivo! Vá ver, então, Cinema in process!

Um comentário:

  1. Luiz!
    Super feliz com suas palavras. Feliz pela sua presença constante e por tudo que você pontuou sobre o nosso processo. Feliz em saber que estávamos juntos naquela situação. vocês e nós.
    Muito obrigado, viu?!

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