domingo, 20 de novembro de 2011

Madleia + ou – Doida



19 de novembro. Recife. Teatro Hermilo Borba Filho. Amigos. Conhecidos. Uma pessoa sem noção na fila. Nome da peça: Madleia + ou – Doida. Será que presta? Ao menos está participando do Festival Recife do Teatro Nacional. Ao entrar no teatro, deparo-me com um cenário simples, contudo atraente. Ao fundo, ouvimos Wanderléia cantando (se não estou enganado kkk). Um clima pitoresco, engraçado, boêmio, forma-se em meu coração e em minha mente.
Apresentação iniciada, percebo uma riqueza na interpretação do ator. Muito bom o trabalho de corpo e voz dele. Sem falar nas improvisações. A peça tem um tom de interação com o público muito bom. Gosto disso. De repente, percebo várias cenas poéticas. Poesia nas palavras da personagem. Poesia no cenário. Poesia no figurino. Poesia na iluminação. Poesia na música, na alegria e na dor de Madleia. Poesia que posso enxergar na mulher que ama, na mulher traída, na mulher que não sabe o que quer (quero-te aqui, não te quero mais...), na mulher “louca” por amor. Mas o que é a loucura? Segundo a psicologia, a loucura é uma condição caracterizada por pensamentos considerados “anormais” pela socidade. (Vide site Wikipedia). E por acaso existe sanidade no amor? Existe sanidade na relação de duas pessoas que se amam? E o que é loucura para quem ama? E o que é normal para os amantes? O fato de uma hora eu te querer e outra não te querer mais, sentir tua falta ou não, seriam marcas de loucura? Acredito que são marcas de uma inconstância. E isso é próprio do ser humano. Ser humano que se aceita, sabe-se incompleto. Em alguns momentos lembrei-me dos textos de Martha Medeiros ou, de Clarice Lispector, pois a peça me fez refletir sobre a inconstância humana, sobre eu, você, o homem em si. Se Madleia está certa em hora querer o amado e outra desistir, não estou aqui para usar juízo de valor moral. No entanto, caro leitor, seja sincero: você por acaso é constante o tempo todo? Você consegue dominar seus gostos e desejos de maneira total? E por acaso você é considerado como “louco”? Sendo assim, a peça que dialoga com Medéia de Eurípedes e Joana de Gota D’Água, faz nos beber dos “exageros” e das verdades dos mitos. E, de uma forma, cômica faz-nos pensar nas nossas relações humanas, nos nossos dissabores. Isso tudo apresentado de maneira poética, cômica e musical. Termino dizendo que, para mim, não vi uma peça, mas sim uma aula de sociologia, de antropologia. Ah, e das muitas plásticas artísticas vistas ontem na peça, uma quero ressaltar: a personagem central, passava quase toda a cena no quarto, numa alcova, tudo vermelho lembrando paixão. O chão rememorava uma cama em forma de coração. Coração e cama, em ambos os lugares o amado não estava mais. E, em alguns momentos, nem Madleia estava mais. Agora, é loucura eu sentir falta na minha cama e no meu coração a presença da pessoa amada? E por isso clamar aos céus e terras por justiça (justiça, no amor?)? Veja a peça e nos ajude a refletir sobre a arte que é uma das maneiras de diminuir nossas “loucuras diárias”.
Texto escrito por Luiz Carlos Filho

4 comentários:

  1. Se não houvesse inconstância não haveria desejos. Pois esses são a vontade de mudança, em qualquer que seja o aspecto. E o ser humano é movido por desejos. O que seria de nós sem eles? Sendo assim, viva a inconstância!

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  2. Infelizmente perdi várias oportunidades de var a Madleia, mas vejo sempre criticas muito boas, vejo que você é mais um que engrossa o coro e pretendo ver em breve para poder postar minhas impressões.

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  3. Fiquei curiosa para ver a peça e conhecer um pouco mais desse universo inconstante que se parece tanto com a nossa realidade

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